Fusões bilionárias e expansões estratégicas redefinem o setor de embalagens de papel em 2024 69315v
Movimentos estratégicos de gigantes globais e nacionais moldaram um novo cenário competitivo, com foco na inovação e na eficiência operacional 56g51

O ano de 2024 foi marcado por uma série de movimentos estratégicos e reconfigurações no setor de packaging. Fusões e aquisições moldaram o cenário de forma significativa, evidenciando a busca por liderança global e o fortalecimento de soluções sustentáveis no segmento de embalagens. A indústria de packaging, que já vinha sendo impulsionada pelas demandas de sustentabilidade e inovação, viu o fortalecimento de grandes players globais. Nesta retrospectiva, o Portal Packaging revisitou as principais notícias e acontecimentos que definiram o ano e apontaram para um futuro de maior competitividade e transformação no mercado. 724l2m
SMURFIT KAPPA E WESTROCK: NASCE UM GIGANTE GLOBAL
A Smurfit Kappa concluiu em julho de 2024 a aquisição da WestRock, formando uma das maiores potências globais no setor de embalagens sustentáveis. O acordo, amplamente aprovado por acionistas de ambas as empresas, consolidou a WestRock como subsidiária integral do grupo e reforçou a liderança global da Smurfit Kappa. Além de expandir sua capacidade de atuação, a fusão promete fortalecer a posição do grupo na cadeia de suprimentos global, impulsionando o mercado de embalagens sustentáveis.
A BATALHA PELO CONTROLE DA DS SMITH: MONDI, INTERNATIONAL PAPER E A FUSÃO BILIONÁRIA
O ano de 2024 também destacou a intensa disputa pelo controle da DS Smith, uma das maiores fabricantes de embalagens sustentáveis da Europa. Inicialmente, a Mondi havia firmado um acordo de fusão com a DS Smith, prevendo uma nova potência pan-europeia, com acionistas da Mondi controlando 54% do grupo combinado. No entanto, a entrada da International Paper (IP) mudou o rumo das negociações.
Com uma proposta de 5,72 bilhões de libras – superior à oferta da Mondi –, a International Paper iniciou uma ofensiva estratégica, destacando sinergias operacionais de US$ 514 milhões e propondo uma troca de ações que daria aos acionistas da DS Smith 33,7% de participação no novo grupo. O esforço foi bem-sucedido. Após meses de negociações, os acionistas de ambas as empresas aprovaram a fusão, consolidando a International Paper como controladora da DS Smith.
SUZANO EXPANDE PRESENÇA NOS EUA E DIVERSIFICA OPERAÇÕES
A Suzano intensificou sua estratégia de expansão internacional em 2024, com foco no mercado norte-americano. Um dos destaques foi a aquisição de duas fábricas da Pactiv Evergreen nos EUA, localizadas em Pine Bluff (Arkansas) e Waynesville (Carolina do Norte). Avaliada em US$ 110 milhões, a operação adicionou 420 mil toneladas anuais de capacidade produtiva de papel cartão, reforçando a presença da Suzano no segmento de Liquid Packaging Board e copos de papel.
Além dessa aquisição, a companhia iniciou negociações para comprar ativos de papel e embalagem da Rand-Whitney, controlada pelo Kraft Group. O objetivo é expandir sua participação no mercado de papelão ondulado, fortalecendo sua atuação em embalagens sustentáveis e diversificando o portfólio além da celulose.
KLABIN REFORÇA LIDERANÇA COM AQUISIÇÕES, NOVA FÁBRICA E PLANO ESTRATÉGICO
Em 2024, a Klabin celebrou 125 anos com uma série de movimentos estratégicos para consolidar sua liderança no setor de embalagens sustentáveis. Um dos destaques foi a aquisição das operações florestais da Arauco no Paraná, por US$ 1,16 bilhão. O negócio incluiu 85 mil hectares de áreas produtivas e 31,5 milhões de toneladas de madeira em pé, permitindo à companhia atingir 75% de autossuficiência de madeira no estado e garantir uma redução de custos significativa no longo prazo.
Outro marco foi a inauguração da Unidade Figueira, em Piracicaba (SP), considerada a mais moderna fábrica de papelão ondulado do Brasil. Com um investimento de R$ 1,6 bilhão, a unidade tem capacidade de 240 mil toneladas anuais, elevando para 1,2 milhão de toneladas a capacidade total de conversão de papelão ondulado da Klabin no país.
Para o futuro, a empresa lançou seu plano estratégico até 2030, que prevê dobrar sua capacidade produtiva para 6,1 milhões de toneladas anuais, com foco na produção de celulose fluff, papel reciclado e sack kraft. O plano inclui investimentos na base florestal de Santa Catarina e a expansão de operações em novos mercados de maior valor agregado.
A CRISE DO MERCADO DE APARAS E OS DESAFIOS DA ECONOMIA CIRCULAR
O mercado de aparas ou por uma forte oscilação. Após a pandemia, a alta na oferta de celulose levou fabricantes a priorizar a fibra virgem, desestimulando a coleta de aparas. Isso impactou a rede de cooperativas e catadores, que viram o preço das aparas despencar. Em 2024, o cenário mudou: a demanda por materiais reciclados cresceu, e os preços das aparas subiram até 78,6% em algumas categorias, como o papelão ondulado. Empresas como Smurfit WestRock e Irani reforçaram suas estratégias de reutilização de fibras recicladas, enquanto a Associação Nacional dos Aparistas de Papel (ANAP) destacou a importância de políticas públicas de incentivo à coleta e à previsibilidade dos preços.
Essa retomada da demanda e o consequente aumento nos preços das aparas pode gerar pressão nos custos de produção das indústrias de embalagens, potencialmente levando a reajustes nos preços finais de seus produtos.
O IMPACTO DA CONCORRÊNCIA CHINESA NO MERCADO DE PAPEL CARTÃO
Em 2024, a pressão internacional sobre as exportações chinesas se intensificou, e o setor de papel cartão sentiu os efeitos. Estados Unidos, União Europeia e México aplicaram tarifas antidumping sobre produtos chineses, buscando conter a concorrência desleal causada por subsídios e incentivos estatais oferecidos pelo governo chinês. No Brasil, o setor de papel cartão seguiu a mesma direção, com fabricantes alertando para os riscos de perda de empregos e investimentos diante da chegada de produtos chineses a preços artificialmente baixos.
PERSPECTIVAS DE CRESCIMENTO NA AMÉRICA LATINA
A conferência Forest Products Latin America 2024 revelou uma perspectiva otimista para o setor de packaging na América Latina. Após a retração de 2023, o setor iniciou uma recuperação, com projeção de crescimento até 2026. O aumento das exportações de alimentos e a substituição de embalagens plásticas por alternativas de papel e papelão impulsionarão o mercado.
Para o Brasil, espera-se um crescimento anual de 1,9% na demanda por papelão ondulado e 2,1% por cartões até 2026, índices inferiores aos de países vizinhos como Uruguai e Argentina. O setor também será influenciado pelas regulamentações globais de sustentabilidade, como as regras europeias de embalagem sustentável (EUDR), que reforçam a adoção de soluções recicláveis e biodegradáveis.
UM FUTURO DE CRESCIMENTO SUSTENTÁVEL
O ano de 2024 foi um marco de transformação para o setor de packaging, com fusões, aquisições e expansões que redesenharam o cenário competitivo. Empresas como Smurfit Kappa, WestRock, Mondi, DS Smith, Suzano e Klabin protagonizaram movimentos estratégicos que reforçaram a liderança global e ampliaram a busca por soluções mais sustentáveis.
A economia circular e o uso de fibras recicladas ganharam força, mas a volatilidade no mercado de aparas revelou a necessidade de maior previsibilidade e incentivo à coleta. Políticas como a Lei de Incentivo à Reciclagem (LIR) e o Plano de Transformação Ecológica serão cruciais para garantir uma cadeia de suprimentos mais estável e eficiente.
Com as projeções de crescimento na América Latina até 2026 e a crescente demanda por embalagens sustentáveis, o setor se prepara para uma era de maior competitividade e inovação. O desafio para as empresas será transformar os altos custos de insumos e as exigências regulatórias em oportunidades de crescimento sustentável, impulsionando a eficiência e a responsabilidade ambiental em toda a cadeia de valor.