Um cenário mais promissor para a reciclagem do papel cartão 5f4p6v
Por Amando Varella, Co-CEO e diretor de Marketing e Comercial da Papirus 134y5b

Marcas cada vez mais comprometidas em comercializar produtos sustentáveis para consumidores cada vez mais preocupados com a sustentabilidade. Este é o cenário na ponta do consumo final, que vem sustentando uma cadeia de reciclagem em expansão, que ainda traz não só muitas oportunidades a serem exploradas, como desafios a serem superados. 5ii1h
Em um país que produz mais de 80 milhões de toneladas de resíduos por ano, dos quais 33 milhões de toneladas têm destinação inadequada e apenas 4% são reaproveitados, a necessidade de reciclagem torna-se uma contingência. Tanto devido ao impacto ambiental desses resíduos sobre o meio ambiente quanto sob o aspecto econômico – considerando que materiais recicláveis que vão para o lixo chegam a representar perdas de bilhões de reais a cada ano – além do aspecto social, extremamente relevante, por conta das oportunidades que se perdem em termos de emprego e renda para a parcela da população que trabalha nessa atividade ou poderia trabalhar, se houvessem condições mais favoráveis à captação, manuseio e comercialização do material reciclado.
É nesse contexto que o país busca avançar no incentivo à reciclagem, com medidas como a Lei 14.260/2021, regulamentada por Decreto Federal 12.106/2024 no último dia 10 de julho, que incentiva as empresas a investirem em projetos de reciclagem e de gestão de resíduos sólidos, recebendo como contrapartida benefícios fiscais vinculados à redução do Imposto de Renda, na proporção de 1% para pessoas jurídicas e 6% para pessoas físicas.
Esta lei prevê diversas medidas incentivadas que poderão ser tomadas em toda a cadeia da reciclagem, tais como a capacitação, formação e assessoria técnica às cooperativas, associações de catadores, micro e pequenas empresas e indústrias envolvidas com a atividade. Outra delas é voltada à implantação de infraestrutura e aquisição de equipamentos e veículos necessários a essa operação.
E é neste ponto que proponho uma reflexão sobre a extensão do impacto que esta lei pode ter sobre a atividade dessas organizações e a ampliação do volume de resíduos de papel cartão retirado do meio ambiente.
Atualmente, apenas 22% do papel cartão é reciclado no Brasil, o equivalente a 152 mil toneladas/ano, das quais a grande maioria provém do processo pós-industrial – coletadas pelos aparistas diretamente da indústria – e apenas uma pequena parte é captada no pós-consumo, onde atuam as cooperativas e associações de catadores.
Os números de reciclagem de papel cartão vêm melhorando. Comparando o ano de 2023 com 2019, anterior à pandemia de COVID-19, o volume de papel cartão reciclado aumentou 30%. No período pós-pandemia, isto é, em 2023, comparado a 2022, o crescimento foi de 21%.
Há ainda uma quantidade adicional de aparas de papel cartão misturada ao papelão ondulado, mas sem estatísticas claras disponíveis para se dimensionar o que isto representa. De qualquer forma, considerando-se que o consumo aparente de papel cartão foi de 718 mil toneladas em 2023 – segundo dados da Ibá (Indústria Brasileira de Árvores) – e que este ano, até julho, o consumo está 7,5% acima do mesmo período do ano ado, vemos que o potencial de reciclagem já se encontra próximo de 800 mil toneladas/ano.
Para o universo das cooperativas e catadores, que reúne cerca de 800 mil pessoas no país – a maioria mulheres, negras, chefes de família, que moram em locais periféricos e são excluídas socialmente, segundo dados apresentados recentemente pela Secretaria-Geral da Presidência – a chamada Lei Rouanet da Reciclagem pode trazer muito mais oportunidades e renda, principalmente com a maior captação de aparas de papel cartão branco.
O valor pago por nós neste tipo de apara é superior ao da apara mista e das aparas de papelão ondulado. Isso possibilita um significativo aumento de renda, que poderá ser auferida pelos catadores e cooperativas, desde que as aparas de papel cartão sejam corretamente separadas.
Se considerarmos apenas a captação das aparas no Estado de São Paulo, onde estão sediados os maiores recicladores de papel cartão, entre os quais a Papirus se inclui, o impacto combinado do melhor preço e maior volume de material captado é significativo. E se olharmos para o potencial de captação em outras regiões, teremos um impacto multiplicado algumas vezes mais.
O ponto em que a Lei 14.260 pode ajudar a ampliar a captação de aparas em diversas localidades do país é justamente o que prevê incentivos à capacitação das cooperativas e aquisição de equipamentos, como os de separação, compactação e enfardamento dos resíduos. Ter condições de separar, compactar e enfardar esse material por meio de equipamentos adequados significa ampliar consideravelmente o volume de aparas que podem ser condicionadas em cada fardo e transportadas em cada veículo.
Isso significa redução do custo do frete comparativamente ao volume transportado – um ponto muito importante, considerando que atualmente o custo do frete é um grande impeditivo para viabilizar, em São Paulo, a comercialização de aparas de papel cartão provenientes de outros estados. Também garante competitividade ao material reciclado, comparativamente ao custo da fibra virgem da celulose.
O o a máquinas de compactação e enfardamento pode possibilitar inclusive a montagem de fábricas de reciclagem fora dos grandes centros, abrindo oportunidades para cooperativas e catadores de outras localidades comercializarem o material reciclado em São Paulo, com o ganho de valor propiciado pelas aparas de papel cartão. É também uma possibilidade de atrair mais pessoas para essa atividade.
Há outros desafios para se elevar a reciclagem de papel cartão e de outros tipos de resíduos – e o principal deles é a necessidade de ampliação da coleta seletiva –, mas não resta dúvida de que a Lei 14.260 e os investimentos incentivados em equipamentos e capacitação das pessoas que atuam na reciclagem são um o fundamental para o país destravar alguns desses empecilhos. Resta agora as empresas avançarem nessa direção, promovendo um ciclo cada vez mais sustentável no setor de embalagens de papel cartão.
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